sexta-feira, 7 de março de 2008

Mito da Caverna de Platão

Suponhamos que um grupo de pessoas esteja preso dentro de uma caverna. Estão lá dentro desde a infância, algemados das pernas ao pescoço, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e a olhar sempre e somente a uma parede em frente.
Essa caverna é iluminada precariamente por uma fogueira situada a sua entrada. Entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro semelhante ao que se usa nos teatros de marionetes e fantoches. Nesse caminho homens passam carregando estatuetas de vários tipos como: de homens, de animais e de outras coisas ou formas.
Deste modo as sombras dessas estatuetas são projetadas na parede em que os prisioneiros podem enxergar. Assim eles vêem unicamente esse "teatro de sombras". Não sabem que existem homens, nem estatuetas, nem que há um outro mundo lá fora. Como jamais viram outra coisa, eles não sabem que se tratam de sombras. O seu mundo se restringe ao que eles vêem: sombras.

Platão, República, Livro VII (Mito da Caverna).

Se por um acaso alguém resolvesse libertar uma dessas pessoas da sua pesarosa ignorância e a levasse ainda que arrastada para longe daquela caverna, o que aconteceria?
Provavelmente ela não gostaria de sair da onde estava (medo do desconhecido). Quando ela chegasse ao lado de fora seus olhos doeriam pelo excesso de claridade e ela não enxergaria nada (as grandes mudanças não são fáceis nem rápidas). Mas depois de algum tempo, já habituada (tempo de assimilação do novo), essa pessoa tomaria conhecimento da existência de um novo mundo, completamente diferente do que fora criada (novos rumos, novas idéias).
Além da possibilidade de se mexer, sem as correntes, de estar exposto à claridade, de enxergar os objetos em si e outros seres humanos, ele entraria em confronto com a realidade das coisas, pois ficaria sabendo que o que via eram sombras de vários objetos, projetadas por uma fogueira, e não as coisas em si (comparação do novo com o antigo).
Agora, esse feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar.
Como ele seria recebido? Certamente que os que se encontram presos zombariam dele, colocando abertamente em dúvida a existência desse tal outro mundo que ele disse ter visitado. As pessoas apontariam para a parede da caverna e diriam que aquilo que vêem é tudo o que existe; é a única verdade que existe; é a realidade.
O recém-vindo certamente seria unanimemente hostilizado. Dessa forma, Platão traçou o desconforto do homem sábio quando é obrigado a conviver com os demais homens comuns. Não acreditam nele, não o levam a sério. Imaginam-no um excêntrico, um extravagante, quando não um completo doido (destino comum a que a maior parte dos cientistas, inventores, e demais revolucionários tiveram que enfrentar ao longo da história).

Esta mesma passagem pode ser descrita de uma forma mais moderna através do filme Matrix.
Matrix tem como tema a luta do ser humano, por volta do ano de 2200, para se livrar do domínio das máquinas que evoluíram após o advento da inteligência artificial. A humanidade cobriu a luz do sol para cortar o suprimento de energia das máquinas, mas elas perceberam que cada ser humano produz, em média, 120 volts de energia elétrica, e começaram a cultivá-los como fonte de energia. Para que o cultivo fosse eficiente, os seres humanos passaram a receber programas de realidade virtual, enquanto seus corpos reais permaneciam mergulhados em habitáculos nos campos de cultivo. Essa realidade virtual, que é um programa de computador ao qual todos são conectados, chama-se Matrix e simula a humanidade do final do Século XX.
Assim, 'Matrix' é a máquina/programa que simula uma realidade virtual para que os humanos não saibam que estão presos dentro de uma realidade virtual. Esta máquina faz a mente imaginar que está vivendo em um mundo real, enquanto o corpo está deitado dentro de uma câmara com um líquido e conectado a vários fios que puxam a sua energia. Ainda no filme, Neo (Keanu Reeves) tem de fazer uma escolha entre uma pílula vermelha e uma azul.
Qual pílula escolher? A vermelha ou a azul? Escolher a azul sua mente continuaria aprisionada, mas optando pela vermelha uma nova realidade se revelaria.

Por meio da parábola relatada por Platão ou do filme Matrix, pode-se refletir um pouco acerca do que entende-se por verdade.
Será que nossas verdades são as “sombras” que se encontra em nossa frente?
Será que nossas verdades se resumem apenas ao que percebemos com nossos cinco sentidos?
Quando acreditamos apenas no que conseguimos ver, ficamos dentro das muralhas de nossa existência, de nossos sentidos, percepções, conceitos e preconceitos.

Como pode se notar, a alegoria da Caverna de Platão se presta a múltiplas interpretações. Uma das mais curiosas, e bem-feitas, aplicações foi a do Maurício de Souza famoso desenhista das histórias em quadrinhos da Turma da Mônica. A história se passa com um de seus personagens, o Piteco, que tenta libertar alguns homens da prisão das sombras.

Com tudo isso, agora, pode-se fazer uma analogia com Platão ou com o filme Matrix ou com o Piteco.
Imagine que você está cercado, preso dentro de uma grande gaiola. Esta gaiola se movimenta conforme você se movimenta. Ela o segue aonde você vai. Uma gaiola que está na sua mente. E que a mente faz com que você não a possa ver, nem a sentir. Mas faz com que o “eu” de cada um de nós não a ultrapasse.
Que cada haste que forma esta gaiola é uma qualidade sua, como: ser inteligente, prestativo, sociável, honesto, entusiasmado, persistente, cooperativo, habilidoso, organizado, criativo, etc.
Outras hastes são seus defeitos: ser passível, egoísta, orgulhoso, agressivo, tímido, mentiroso, desorganizado, explosivo, arrogante, etc.
Que você poderia ainda dividir essas hastes de qualidades e defeitos na forma como elas foram implantadas, criadas ou geradas em você, como: em casa pela família, pela televisão, pela internet ou fora pelos amigos, pela escola, pelos professores, no trabalho, etc.
Ou ainda dividir em seus conceitos ou preconceitos.
Assim você ficou confinado dentro dessa gaiola, que pode ser chamar de personalidade.
Apesar de muitas pessoas acreditarem no ditadopau que nasce torto, não tem jeito, morre torto”, ou que uma pessoa não possa alterar as suas qualidades ou defeitos, querendo que você opte por tomar a pílula azul, quando você se conscientizar desta intrigante gaiola, você provavelmente tomará a pílula vermelha. Assim poderá perceber quais são os seus limites e com isso tentará ultrapassá-los, melhorá-los. Desta forma você poderá escolher se deseja ou não crescer, amadurecer ou desentortar.
Poderá ser uma pessoa melhor para com seus amigos, familiares, colegas de trabalho ou para com todas as pessoas indistintamente.
Parafraseando Jesus, “conhece-te a ti mesmo”. Tomem consciência da forma da SUA gaiola.
Poderá compreender James Hunt em “O Monge e o Executivo” com aquela história de AMOR, sendo seu significado, nada mais nada menos que, RESPEITO (faça ao próximo o que desejas que ele faça a você).
Novamente parafraseando Jesus, em seu segundo e mais importante mandamento, “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Marcos capítulo 12 versículo 31 e Mateus capítulo 22, versículo 39.
Desta forma tome cuidado para não aniquilar prematuramente o que ainda não vê. Pode ser que se perca uma ótima oportunidade de ampliar os seu conhecimentos.
Acreditar nas "sombras" é um péssimo hábito que, infelizmente, está muito presente nos dias de hoje.
Tomar da pílula azul também!
Viva sua vidas com muita energia sem nunca perder a alegria e o prazer de viver.
Saiba seus limites e os amplie.
Respeite as pessoas e as ame sem medo.

Sites relacionados:


Turma da Mônica
Wikipedia - Matrix
Educaterra - caverna
Guibriggs.blogspot