“(...) Vendo a prosperidade alcançada
pelo Aikidō, não posso deixar de pensar nas decisões tomadas pelo Fundador
durante os anos da guerra e imediatamente depois. Se, em vez de retirar-se para
Iwama, mestre Ueshiba tivesse deixado que o Kōbukan Aiki-Budō fosse engolido
pela fusão das artes marciais durante a guerra, a história do Aikidō poderia
ter terminado naquele tempo. Ambos os nomes, o de mestre Ueshiba e do Aikidō, e
seu breve mas glorioso capítulo no Budō nos anos anteriores à guerra, poderiam
ter sido relegados aos livros de história e, com o tempo, convertido apenas em
lendas obscuras nos anais das artes marciais.
A
reputação e o sucesso atuais do Aikidō se devem à decisão do Fundador de
dedicar-se à busca espiritual da essência das artes marciais naquela distante
região de Iwama. Mestre Ueshiba demonstrou com o seu exemplo que o sucesso do
Aikidō não é medido pelo número de seguidores, mas pela profundidade e
intensidade de busca pessoal da verdade através do treinamento e da prática.
Esse, creio eu, é o motivo principal para que o Aikidō seja o que é hoje.
O
ditado zen “Refletir sobre nossos passos” nos aconselha sempre a verificar se
nossos pés estão em terra firme. Como praticantes do Aikidō, devemos sempre
“refletir sobre nossos passos”, mesmo que prossigamos com grande idealismo e
paixão pela verdade.
Não
há nada mais desejável do que o crescimento e a expansão, mas se nossos olhos
são atraídos apenas por eventos superficiais e perdemos a visão da essência do
Caminho do Aikidō, então – do mesmo modo que um pião perde seu momento
cinético, seu equilíbrio, e cedo ou tarde cai – nosso Caminho perderá sua
vitalidade, dividir-se-á e finalmente se desintegrará. Quando penso nos anos
que o Fundador passou em Iwama refletindo sobre si mesmo, novamente me lembro
da minha tarefa essencial.”
O espírito do Aikidō. Kisshōmaru
Ueshiba. São Paulo: Ed. Cultrix, 1984. Pg 133 – 134.