segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Meditação - terceira parte

Os quatro pontos
Existem quatro pontos básicos para iniciar a prática da meditação:

O lugar para meditar;
A postura ou posição confortável;
O objeto de concentração;
A atitude passiva.
O lugar para meditar
O melhor ambiente para a iniciar a prática da meditação é um lugar tranquilo e calmo que proporcione o mínimo de distrações. Pode ser fechado como em uma sala, um quarto ou aberto em contato com a natureza (parques ou um local solitário e bonito), mas deve-se ter em mente que é possível meditar em praticamente qualquer lugar e fazendo qualquer coisa.

A postura ou posição confortável
A estabilidade do corpo é a grande âncora da meditação, pois a imobilidade do corpo disciplina a mente inquieta, restringindo suas opções de foco.
Deve-se estender uma esteira ou um tapete, ou uma almofada (zabuton) de um metro quadrado e relativamente macio e colocar em cima uma almofada pequena e circular (zafu), medindo mais ou menos trinta centímetros de diâmetro, para se sentar. Preferivelmente não se deve usar calças ou meias, uma vez que podem interferir no cruzamento das pernas e na colocação dos pés.
É possível obter total descanso numa posição sentada e, por conseguinte atingir maior profundidade na meditação e, assim, dissolver preocupações e problemas que bloqueiam a mente.
Uma posição possível é a posição de lótus completo, o pé esquerdo apoiado sobre a coxa direita e o pé direito apoiado sobre a coxa esquerda. Outra posição é sentar-se em meio lótus, o pé esquerdo apoiado sobre a coxa direita ou o pé direito sobre a coxa esquerda sentando sobre uma almofada, de forma a que os dois joelhos se apóiem contra o chão. Os três pontos de apoio dessa posição proporcionam uma grande estabilidade. Há pessoas que não conseguem sentar em nenhuma dessas posições e por isso podem sentar a maneira japonesa, a seiza, que é sentar-se sobre os calcanhares e a barriga das pernas. Esta pode ser mantida por um tempo mais longo se uma almofada é colocada entre os calcanhares e as nádegas. Uma vantagem desta postura é que as costas podem se manter facilmente eretas.
Manter as costas eretas é muito importante. O pescoço e a cabeça devem ficar em alinhamento com a coluna. A postura deve ser reta, mas não rígida. Mantenha os olhos semi-abertos, focalizados a uns dois metros à sua frente. Mantenha leve sorriso, pois quando ele surge todos os músculos faciais começam a relaxar.
Na altura do ventre, pouse a mão esquerda com a palma voltada para cima sobre a palma da mão direita e as pontas dos polegares se tocando levemente à altura do umbigo, formando um oval. Soltar todos os músculos dos dedos, braços e pernas.
Os olhos focam o chão, num ângulo de 45º, com as pálpebras abertas ou semicerradas, podendo, ainda, optar por manter os olhos fechados, principalmente se a técnica de meditação empregada for de visualização. Os olhos abertos diminuem as visualizações indesejáveis e o sono. Os olhos semicerrados, com as pálpebras levemente rebaixadas reduzem ainda mais o campo de visão, devendo focar um ponto imaginário no chão, sem fixar-se em nenhuma imagem.
Algumas publicações sugerem a possibilidade de meditar sentado em uma cadeira, encostado na parede, em pé, caminhando, deitado ou em qualquer outra postura confortável que deixe o corpo e a mente em harmonia.

O objeto de concentração
Algumas das meditações mais amplamente usadas empregam mantras como meios para levar à concentração. Em sânscrito, mantra quer dizer “aquilo que liberta a mente”. Trata-se de um som, com ou sem significado, que, pronunciado repetitivamente, ajuda a manter a atenção no agora. Essas técnicas encontram-se em praticamente todas as principais tradições espirituais, desde o cristianismo, judaísmo e islamismo ao budismo e hinduísmo. Nos tempos modernos, as técnicas têm sido adaptadas para ajudar as pessoas a entrarem no estado relaxado.
Há muito a ser dito para a escolha quer de uma palavra ou um significado, ou um som neutro, para usar como mantra para meditação. Algumas pessoas, no entanto, gostam de usar uma palavra como paz, que tem associações relaxantes. Outras dizem que não é necessário usar um mantra individual, mas sim o mantra mater OM, que deu origem a todos os demais.
Em todos casos deve-se sentar em silêncio e repetir o mantra mentalmente sem produzir nenhum som. Toda vez que a mente divagar, deve-se trazê-la de volta ao mantra para afastar qualquer outro pensamento e deixando que o mantra preencha a consciência.
No budismo o foco de atenção é frequentemente o meditador da própria respiração.
Para a prática com consciência na respiração como único método de meditação, deve-se deixar a atenção se concentrar sobre os suaves e rítmico movimentos da respiração abdominal, fazendo com que a respiração torne-se muito calma promovendo o relaxamento.
O koan, usado com exclusividade pelos seguidores da linhagem zen do budismo, é um problema passado pelo mestre ao discípulo a fim de que, na tentativa de solucioná-lo, o aluno possa romper os padrões da mente condicionada. Esse problema é o que cada pessoa traz consigo a este mundo ao nascer e deve procurar decifrá-lo antes de partir. O koan está dentro de cada um, e o mestre Zen apenas o assinala de modo que a pessoa possa vê-lo mais claramente do que antes. Quando o koan é tirado do inconsciente e colocado no campo da consciência, diz-se que ele foi compreendido pela pessoa. Alguns exemplos de koans: “Qual é o teu rosto original, o que tinha antes de nascer?”, “Qual é o som de uma mão batendo palmas sozinha?”, “Fale sem usar a tua língua?” ou “Uma vaca passa por uma janela. Sua cabeça, chifres e as quatro pernas passam. Por que o rabo não passa?”.
Existem muitos koans diferentes, e cada estudante pode criá-los a partir de novas abstrações. O importante é manter a mente completamente impregnada dele, sustentando o pensamento no koan pela concentração, até que a compreensão advenha.
A visualização é uma técnica importante na prática meditativa. Pode-se visualizar desde uma luz até a figura de um mestre, um santo, um deus ou uma paisagem tranquilizante. A exemplo da concentração, o objetivo aqui é focar a atividade mental, mas de uma forma que exige menor esforço. Na visualização, a mente cria um espaço ilusório, fica aprisionada ao que ela criou e segue respondendo dentro do contexto da paisagem mental.
A música tem uma importância vital por auxiliar não só no relaxamento em si, mas também por facilitar e propiciar uma atmosfera susceptível à meditação profunda. É natural que o homem se harmonize às vibrações exteriores. Todo o corpo e a mente tendem a vibrar de acordo com as ondas energéticas provenientes do ambiente circundante.
Todos estes objetos de concentração habilitam a fixação da atenção por períodos mais ou menos longos, fazendo com que as pessoas mergulhem em profunda paz, enquanto os pensamentos circulam em torno do foco, o objeto, sem nenhum poder de distração.

A atitude passiva
Este último elemento de meditação para relaxamento diz-se ser o mais essencial. É muitas vezes chamada consciência equilibrada ou atenção-consciência, porque nela o relaxamento e vigilância estão em perfeito equilíbrio. Não há nada exótico sobre este método: ficar passivamente consciente quando se deixa libertar a tensão dos músculos dos braços, pernas, tronco, e face.
Uma atitude passiva significa que distrações de sons ambientais, arrepios de pele, e as inevitáveis intrusões na mente de pensamentos e imagens são visualizadas e libertadas casualmente. Deve-se deixar que elas venham e vão, tendo em idéia que a consequência desse movimento não é nada mais do que pequenas nuvens que atravessam o céu num dia de sol. Mas, cada vez que o indivíduo se tornar consciente de que a atenção está começando a fugir para longe do objeto da concentração será necessário voltar a atenção numa cadeia lógica de pensamento ou interesse em desenvolver alguns sons ou outras sensações, e assim trazer de volta sua atenção e sensibilização para a meditação.
É realmente muito simples, desde que se mantenha uma atitude relaxada no decurso da meditação. Não forçar, e não se agarrar. Com a prática, momentos de grande calma e profundidade durante a meditação tornam-se mais frequentes.

Apreender o sentido da meditação exige mais o esforço de esvaziar a mente do que enchê-la com conceitos e definições. Compreende-se o que é meditar, sobretudo meditando. Mas o aprendizado da arte meditativa precisa levar em conta, como estágio inicial, um trabalho de desconstrução. É preciso desprovir a mente de conceitos e preconceitos originados em condicionamentos e fixações, a fim de torná-la apta a ver a paisagem sem obstáculos e a ouvir a harmonia dos sons sem ruídos. A mente meditativa está mais próxima da mente da criança, sempre interessada em observar e fazer descobertas, do que da mente do erudito, que para tudo tem uma resposta pronta. É a mente do principiante, buscadora e cheia de possibilidades, em que não há obstáculos erigidos sobre pré-conceitos.