quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Tai-a

(...) O monge zen Takuan (1573-1645), confidente de Yagyū Munenori (1571-1646), mestre de armas da casa de Tokugawa, escreveu num breve tratado, A Verdadeira e Prodigiosa Espada de Tai-a:

A arte da espada consiste em nunca se preocupar com a vitória ou com a derrota , com a força ou com a fraqueza, com o dar um passo à frente ou um passo atrás, com o fato de o inimigo não me ver e de eu não ver o inimigo. Compreendendo o que é fundamental diante da separação do céu e da terra, onde nem mesmo yin e yang podem chegar, alcança-se instantaneamente a proficiência na arte.

Tai-a é uma espada mística que dá vida a todas as coisas, tanto ao próprio ser como ao outro, ao protagonista e ao antagonista, ao amigo e ao inimigo.

O mesmo Yagyū Munenori salienta que a superação do egoísmo através da autodisciplina na arte da espada. Num tratado conhecido como A Transmissão Familiar na Arte de Lutar, ele descreve que o objetivo do treinamento nas artes marciais é superar seis tipos de males: o desejo de vencer, o desejo de confiar na destreza técnica, o desejo de exibir-se, o desejo de abater psicologicamente o adversário, o desejo de permanecer passivo esperando uma abertura e o desejo de livrar-se desses males.

Em última instância, a maestria física, psicológica e espiritual são uma só e mesma coisa. O eu desprovido de egoísmo é aberto, flexível, adaptável, fluido e dinâmico em corpo, mente e espírito. Desprovido de egoísmo, o eu se identifica com todas as coisas e pessoas, vendo-as a partir de uma perspectiva não centrada em si mesmo, mas a partir dos seus respectivos centros. Num círculo de contorno sem limites cada ponto se torna o centro do Universo. A habilidade de ver toda a existência a partir de uma perspectiva não-centrada em si mesmo é central na identidade Shintō com a natureza e também constitui o que o budismo chama sabedoria, que em sua expressão máxima não é outra coisa senão a compaixão.

Este modo de pensar é a essência de todos os caminhos marciais e culturais da tradição japonesa. O Aikidō é uma formulação moderna dessa essência, aperfeiçoada pelo gênio do Mestre Morihei Ueshiba (1883-1969). (...)

(Fonte: Ueshiba, Kisshōmaru. O Espírito do Aikidō. São Paulo: Cultrix; 1984. pg.12-13. Kisshōmaru Ueshiba, O Dōshu do Aikido, terceiro filho de Morihei Ueshiba, o fundador do Aikidō, nasceu em 1921.)