A Visão Japonesa
A
palavra Ki tem muitas nuances diferentes na língua japonesa;
apareceu há muitos séculos com significados que variam desde tempo
até sentir se bem. Aliando se a tantos significados o fato de que a
sua origem é chinesa que por sua vez possui outros tantos
significados. Inclusive hoje em dia, na vida diária, os japoneses
utilizam muitas palavras que refletem esta herança. Por exemplo,
sentir que não se pode conseguir nada se uma pessoa “tiver perdido
seu Ki” (estar desanimado), ou se o “Ki enfraquecer ou secar”
(estar deprimido). A doença, em caracteres japoneses, se escreve
literalmente “Ki enfermo” e, por tanto, é um conceito associado
na mente oriental à idéia da morte.
Yoshigasaki
Sensei em uma entrevista disse que Ki é uma palavra japonesa,
que se escreve com caracteres chineses, por isso tem um significado
chinês e outro japonês, e esses significados são muito diferentes
e acabaram criando muita confusão.
Kawai
Shihan por sua vez disse que é muito difícil de definir o Ki
em português. A língua japonesa tem muitas palavras cuja essência
está na sílaba Ki, a mesma usada no Aikido. Kuuki (ar),
Denki (luz), Tenki (tempo), Seiki (energia
vital), Kibun (astral), Kishitsu (natureza do ser) e
Kimoti (sentimento) entre tantas outras. Talvez a tradução
mais próxima no português seja “energia”. A idéia é utilizar
o Ki e imaginá-lo como uma força que não seja a muscular.
Kisshomaru
Ueshiba no seu livro “O Espírito do Aikido”
escreve que “a essência do Ki é ao mesmo tempo pessoal e
impessoal, concreta e universal; é a energia básica, criadora, ou
força vital, que transcende o tempo e o espaço. Ki é a energia que
forma o mundo e que também se encontra no interior de cada ser
humano, esperando ser percebida e realizada”. Em outro livro
“Aikido” ele comenta que o Ki é um dos conceitos centrais do
pensamento oriental que contribuiu para o alto nível filosófico que
os asiáticos herdaram do seu passado onde acreditavam que o Ki era a
própria vida sendo uma forma de conceitualizar a força vital, ou
poder do espírito.
A livre
manifestação do Ki, que qualquer ser humano possui, permite um
inconcebível poder e possibilita a ele viver a vida da forma mais
livre e vigorosa. Aqui reside a importância da existência do
Aikido, já que o treinamento correto na arte ensina a capacidade de
manifestar livremente o Ki.
Para dominar esta sensação, devem
estar de acordo o Ki contido no “Poder Respiratório” humano e o
Ki original, onipresente no universo. A característica que distingue
os movimentos do Aikido reside na harmonização com a ordem do
universo e no ajuste espontâneo das suas mudanças. Por tanto, se
deve praticar o Aikido com o fim de realizar a unificação do Ki
individual com o do universo, fomentando o Kokyu-Ryuku (poder
respiratório). Quando este poder respiratório se estende de todas
as partes do corpo e se projeta através de ambas as mãos-espada
(tegatana), as técnicas do Aikido se vivificam e manifestam
todo o seu valor. Isto, por sua vez, faz da pessoa uma encarnação
da totalidade da natureza.
Não é possível personificar em si
mesmo a forma da Mãe Natureza se nossos movimentos estão baseados
dentro do Ego. Ao contrário, deveríamos conduzir o adversário e
nos tornar uno com ele no estado mental que se pode chamar “o Reino
do não-ego”, no qual se sente o fluir do Ki vital. Quando alguém
é capaz de dominar a técnica Aiki até o ponto de tê-la livremente
à suas ordens, moverá seu adversário em qualquer direção que
queira mediante o Fluxo do Ki vivo; haverá aprendido a absorver o
Fluxo do Ki do adversário e a controlar-lhe por meio desta
unificação, e não mediante a oposição.
Esta
utilização correta do Fluxo do ki só pode ser dominada através do
treinamento constante no Aikido e do esforço rigoroso para fomentar
o Poder Respiratório. Assim, podemos definir o Fluxo de Ki como o
estado em que toda a Força Vital concedida a qualquer ser humano
adquire seu máximo desenvolvimento e manifestação.
Por
fim no mesmo livro de Kisshomaru
Ueshiba “O Espírito do Aikido” ele apresenta a visão de
Morihei Ueshiba que diz que
os seres humanos devem unir a mente ao corpo (através do Ki) para
assim alcançar a harmonia com a atividade de todas as coisas do
universo. A sutil atividade do Ki, que harmoniza a mente e o corpo e
a relação entre o indivíduo e o universo, provoca mudanças
delicadas na pulsação. Essas mudanças na pulsação, conectadas
com o Ki do universo, interagem com a vida toda e a interpenetra por
inteiro. Introduzindo-se profundamente, preenche a pessoa com
vitalidade, o que resulta naturalmente em movimentos variados,
dinâmicos e espontâneos. Com a unificação da mente e do corpo e
estando em unicidade com o universo, o corpo se move à vontade, não
oferecendo nenhuma resistência às intenções da pessoa.
Deste modo o Ki tem dois
aspectos: a unidade indivíduo-universo e a expressão livre e
espontânea do poder da pulsação. O primeiro herda idéias do Ki
sustentado pelos pensadores chineses antigos, mas deve ser realizada
pela unificação Ki-mente-corpo no treinamento do Aikido. No
processo de treinamento, a unidade com o Ki do universo é alcançada
espontaneamente sem esforço. A segunda parte ensina que a pulsação
de uma pessoa controla seus pensamentos e seus movimentos corporais.
Quando os ritmos da pulsação individual e os movimentos do Aikido
se harmonizam com o ritmo do universo, a mente e o corpo se centram e
cada movimento se torna uma rotação esférica.