segunda-feira, 28 de maio de 2012

Energia - terceira parte


A Visão Japonesa

 

A palavra Ki tem muitas nuances diferentes na língua japonesa; apareceu há muitos séculos com significados que variam desde tempo até sentir se bem. Aliando se a tantos significados o fato de que a sua origem é chinesa que por sua vez possui outros tantos significados. Inclusive hoje em dia, na vida diária, os japoneses utilizam muitas palavras que refletem esta herança. Por exemplo, sentir que não se pode conseguir nada se uma pessoa “tiver perdido seu Ki” (estar desanimado), ou se o “Ki enfraquecer ou secar” (estar deprimido). A doença, em caracteres japoneses, se escreve literalmente “Ki enfermo” e, por tanto, é um conceito associado na mente oriental à idéia da morte.
Yoshigasaki Sensei em uma entrevista disse que Ki é uma palavra japonesa, que se escreve com caracteres chineses, por isso tem um significado chinês e outro japonês, e esses significados são muito diferentes e acabaram criando muita confusão.
Kawai Shihan por sua vez disse que é muito difícil de definir o Ki em português. A língua japonesa tem muitas palavras cuja essência está na sílaba Ki, a mesma usada no Aikido. Kuuki (ar), Denki (luz), Tenki (tempo), Seiki (energia vital), Kibun (astral), Kishitsu (natureza do ser) e Kimoti (sentimento) entre tantas outras. Talvez a tradução mais próxima no português seja “energia”. A idéia é utilizar o Ki e imaginá-lo como uma força que não seja a muscular.
Kisshomaru Ueshiba no seu livro “O Espírito do Aikido” escreve que “a essência do Ki é ao mesmo tempo pessoal e impessoal, concreta e universal; é a energia básica, criadora, ou força vital, que transcende o tempo e o espaço. Ki é a energia que forma o mundo e que também se encontra no interior de cada ser humano, esperando ser percebida e realizada”. Em outro livro “Aikido” ele comenta que o Ki é um dos conceitos centrais do pensamento oriental que contribuiu para o alto nível filosófico que os asiáticos herdaram do seu passado onde acreditavam que o Ki era a própria vida sendo uma forma de conceitualizar a força vital, ou poder do espírito.
A livre manifestação do Ki, que qualquer ser humano possui, permite um inconcebível poder e possibilita a ele viver a vida da forma mais livre e vigorosa. Aqui reside a importância da existência do Aikido, já que o treinamento correto na arte ensina a capacidade de manifestar livremente o Ki.
Para dominar esta sensação, devem estar de acordo o Ki contido no “Poder Respiratório” humano e o Ki original, onipresente no universo. A característica que distingue os movimentos do Aikido reside na harmonização com a ordem do universo e no ajuste espontâneo das suas mudanças. Por tanto, se deve praticar o Aikido com o fim de realizar a unificação do Ki individual com o do universo, fomentando o Kokyu-Ryuku (poder respiratório). Quando este poder respiratório se estende de todas as partes do corpo e se projeta através de ambas as mãos-espada (tegatana), as técnicas do Aikido se vivificam e manifestam todo o seu valor. Isto, por sua vez, faz da pessoa uma encarnação da totalidade da natureza.
Não é possível personificar em si mesmo a forma da Mãe Natureza se nossos movimentos estão baseados dentro do Ego. Ao contrário, deveríamos conduzir o adversário e nos tornar uno com ele no estado mental que se pode chamar “o Reino do não-ego”, no qual se sente o fluir do Ki vital. Quando alguém é capaz de dominar a técnica Aiki até o ponto de tê-la livremente à suas ordens, moverá seu adversário em qualquer direção que queira mediante o Fluxo do Ki vivo; haverá aprendido a absorver o Fluxo do Ki do adversário e a controlar-lhe por meio desta unificação, e não mediante a oposição.
Esta utilização correta do Fluxo do ki só pode ser dominada através do treinamento constante no Aikido e do esforço rigoroso para fomentar o Poder Respiratório. Assim, podemos definir o Fluxo de Ki como o estado em que toda a Força Vital concedida a qualquer ser humano adquire seu máximo desenvolvimento e manifestação.
Por fim no mesmo livro de Kisshomaru Ueshiba “O Espírito do Aikido” ele apresenta a visão de Morihei Ueshiba que diz que os seres humanos devem unir a mente ao corpo (através do Ki) para assim alcançar a harmonia com a atividade de todas as coisas do universo. A sutil atividade do Ki, que harmoniza a mente e o corpo e a relação entre o indivíduo e o universo, provoca mudanças delicadas na pulsação. Essas mudanças na pulsação, conectadas com o Ki do universo, interagem com a vida toda e a interpenetra por inteiro. Introduzindo-se profundamente, preenche a pessoa com vitalidade, o que resulta naturalmente em movimentos variados, dinâmicos e espontâneos. Com a unificação da mente e do corpo e estando em unicidade com o universo, o corpo se move à vontade, não oferecendo nenhuma resistência às intenções da pessoa.
Deste modo o Ki tem dois aspectos: a unidade indivíduo-universo e a expressão livre e espontânea do poder da pulsação. O primeiro herda idéias do Ki sustentado pelos pensadores chineses antigos, mas deve ser realizada pela unificação Ki-mente-corpo no treinamento do Aikido. No processo de treinamento, a unidade com o Ki do universo é alcançada espontaneamente sem esforço. A segunda parte ensina que a pulsação de uma pessoa controla seus pensamentos e seus movimentos corporais. Quando os ritmos da pulsação individual e os movimentos do Aikido se harmonizam com o ritmo do universo, a mente e o corpo se centram e cada movimento se torna uma rotação esférica.