segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ukemi - terceira e última parte

Continuação
 
Aprender ukemi é tomar conhecimento de como se proteger o corpo de lesões, assim precisa-se estar sempre alerta e flexível. Deve-se ser capaz de executar a queda de qualquer ângulo, a qualquer momento, mesmo inesperadamente. Tais habilidades conduzem ao aprendizado de técnicas mais avançadas.

Aprender a se proteger através do ukemi é também responsabilidade de todos. Enquanto o nage deve ter consciência das limitações do uke e evitar excessos desnecessários, ele tem o direito de esperar do uke um nível de habilidade em ukemi compatível com o nível de graduação. Se a capacidade em executar ukemi é inferior a habilidade com as técnicas a medida que evolui, então o avanço técnico do parceiro será prejudicado. Por vezes, coloca-se muita responsabilidade com relação à segurança pessoal nas mãos do parceiro, especialmente quando se começa a treinar técnicas mais avançadas, mas o próprio treino vai ser prejudicado, pois nunca será capaz de executar as técnicas mais difíceis com toda intensidade.

Executar ukemi não significa que se faz papel de derrotado. É, na verdade, um estudo de comunicação, percepção e auto-proteção. É um meio de adquirir controle sobre si mesmo e sobre as circunstâncias. Esse aspecto do ukemi se torna mais aparente no treinamento mais avançado, como de kaeshi waza, onde, devido às imperfeições da técnica, aparecem oportunidades para o uke aplicar o movimento (o uke se torna nage e o nage em uke) quando as técnicas vão além de se ter apenas um uke atacando. A sensibilidade e a atenção concentrada no nage, que permitem alguém ser um bom uke, também darão a habilidade de ver as falhas na técnica do nage e reconhecer os pontos onde este está vulnerável. Um bom uke pode tirar proveito disso e fazer uma rápida recuperação ou reverter o movimento. Se o ukemi não é bem treinado, então não se terá equilíbrio suficiente para fazer nenhum dos dois.

Algumas dicas de Mitsugi Saotome1 podem ser resumidos assim:

Não tentar antecipar o que está por vir. Uma mente tendenciosa vai obscurecer as resposta intuitivas do corpo e irá refreá-lo. Isso forçará a fazer um ukemi pouco espontâneo, o que, por sua vez, irá refletir quando treinar as técnicas, atrasando o aperfeiçoamento.

Observar os movimentos do parceiro e tente sentir a intenção. Isso é parte do treino de ukemi.

Não se esqueçer da relevância do treino de ukemi para a vida diária. Todas as pessoas proeminentes que alcançaram alguma coisa de valor na vida, absorveram os princípios do ukemi. A jornada da vida é marcada por muitas dificuldades. O sucesso é alcançado por aqueles que venceram suas dificuldades com flexibilidade e a mente aberta ao ukemi. Aqueles que executam o ukemi de uma maneira pouco natural durante o treino, não verá resultados positivos da prática na sua vida diária.

É sábio evitar acidentes e lutar pela bem-aventurança, tanto no dojo quanto fora dele.

Uma mente aberta e e um corpo flexível são os elementos necessários para a arte do ukemi. Sem eles, o treino não progredirá. Sem ukemi, o treino das técnicas nunca irá fluir.

Deve-se observar as palavras de O'Sensei com relação à importância do ukemi na vida diária. Ukemi desenvolve a habilidade de sentir o que está por vir, de analisar as circunstâncias e de responder às mesmas rapidamente. Assim como aqueles que antecipam o ukemi durante o treino e falham ao tentar adivinhar a direção da técnica, são aqueles que pensam demasiadamente e falham em perceber o que está ocorrendo em torno de si. Eles não conseguem ser flexíveis às dificuldades na vida porque não podem vê-las até que seja tarde demais. Treinando-se bem ukemi, ter-se-á uma visão verdadeira do fato, baseada na observação e intuição, e não em algum pensamento arbitrário e pré-concebido. Bom ukemi representa a mesma sabedoria do pescador que, através de sua experiência, sente como vai ser o tempo.

Além das quedas e da harmonização do uke em relação ao nage, o uke também deve realizar um ataque condizente com a sua graduação. Ainda segundo Mitsugi Saotome “o bom ataque não é necessariamente o mais rápido ou o mais violento. O bom ataque é controlado, centralizado e sincero.
1Mitsugi Saotome: (1937 - ) 8o Dan Aikikai.